Direito de Família na Mídia
Adoção internacional se consolida como mercado
05/05/2007 Fonte: G1Estudo mostra que 45 mil crianças são adotadas por outros países todo ano e celebridades ajudam a criar novos países da moda, segundo pesquisador.
O casal-modelo de Hollywood, Angelina Jolie e Brad Pitt, quer adotar um bebê vietnamita, depois de um do Camboja e outro da Etiópia. Madonna brigou pelo bebê dela, do Maláui, mas além dos famosos que adotam crianças de outros países, a "exportação" de crianças para adoção é um "mercado" que vem crescendo muito, revela um estudo realizado recentemente na Inglaterra, a que o G1 teve acesso exclusivo. Mais de 45 mil crianças são adotadas por pais estrangeiros a cada ano em todo o mundo.
As idéias de "exportação" e "mercado" nunca casam muito bem com a de adoção, mas o estudo mostra que entre advogados, formulários e taxas especiais, uma adoção de uma criança chinesa, por exemplo, não custa aos pais menos de R$ 25 mil, e pode passar do dobro deste valor. Multiplicado por 45 mil adoções, o "negócio" da adoção internacional movimenta, no mínimo, R$ 1,1 bilhão por ano.
"Há um elemento de mercado, e tem muita gente ganhando dinheiro com isso, mas não se pode tomar isso como algo negativo", explicou em entrevista ao G1 Peter Selman, professor da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e diretor da pesquisa sobre adoções internacionais. "O problema é que o dinheiro muitas vezes é desviado por advogados desonestos ou verdadeiras máfias da adoção. O pagamento é justo, e normalmente deveria ser usado por orfanatos, políticas públicas voltadas para as crianças."
Segundo ele, ainda é cedo para analisar esta tendência em dados concretos, mas já se percebe que adoções feitas por celebridades criam novas modas de países, que passam a atrair mais a atenção e fazer com que cresça o volume de crianças adotadas da mesma origem, mas não chega a influenciar o volume total de adoções internacionais.
"Não há dúvida de que depois que Angelina Jolie adotou uma criança etíope, a Etiópia passou a chamar muito mais atenção dos Estados Unidos, especialmente. Acho difícil, entretanto, que essas adoções criem uma moda que possa afetar a tendência internacional de adoções internacionais."
Imigrantes fraldados
Nos dados consolidados em pesquisas realizadas por Selman desde os anos 80, a China figura como o berço preferido para adoções por outros países. De lá saem mais de 13 mil crianças ao ano, quase todas (96%) meninas. Em segundo lugar vem a Rússia, com pouco mais de 9 mil adoções internacionais por ano. A Colômbia lidera entre os países latinos, permitindo a adoção de quase 2 mil crianças por ano por estrangeiros.
O destino preferido: os Estados Unidos, que recebem quase metade das crianças enviadas a outros países, 22 mil só em 2005, número que triplicou nos últimos 15 anos. Logo depois, mas muito distantes, vêm a Espanha, a França, a Itália e o Canadá.
Segundo Selman, o que realmente influencia a tendência internacional é a oferta, visto que há uma clara demanda por crianças de outros países, especialmente, e sem nenhum motivo aparente, nos Estados Unidos. "O volume de adoções é afetado pela oferta de crianças, que é muito grande na China atualmente, por isso o país lidera a lista", explica. A pesquisa de Selman tenta vislumbrar ainda o impacto dessas adoções no bem-estar das crianças. A tendência geral é de que quanto mais velha a criança é quando adotada, mais infeliz ela parece ser em sua nova pátria.
"Para as crianças com dificuldades, por exemplo, a adoção é algo excelente. Muitas das crianças adotadas tardiamente, entretanto, costumam se dizer infelizes com a mudança", explicou. "No geral, quando se trata de crianças que saem de países muito pobres, acredito que a adoção deve ter mais efeitos positivos de que negativos."
Bebês brasileiros
O Brasil aparecia nas pesquisas de Selman como um dos primeiros colocados em origem de crianças adotadas por estrangeiros entre 1980 e 1989, com cerca de 750 casos por ano. Em 2002, entretanto, o número havia caído para 358, o menor da história. Em 2005, dado mais recente consolidado por Selman, o número de crianças brasileiras adotadas por estrangeiros foi de 459, não figurando entre os berços mais populares. Os dados foram fornecidos por ele com exclusividade ao G1
"Pelo que entendi, o país decidiu não facilitar ou incentivar adoções internacionais, mas então percebeu que havia uma grande quantidade de crianças com necessidades especiais, deficientes, que teriam muito mais facilidade de se desenvolver e ter qualidade de vida num país desenvolvido, então essa passou a ser a tendência nacional. As crianças brasileiras que continuam sendo adotadas por outros países são de um grupo bem específico: normalmente crianças mais velhas, adotadas em grupo, e um grande percentual de crianças com necessidades especiais", disse Selman.
Entre 1998 e 2005, foram 3.470 adoções internacionais partindo do Brasil. O destino das crianças brasileiras, segundo ele, também é diferente. Em vez de Estados Unidos, que adota cerca de 10% dos bebês brasileiros que saem do país, Itália (cerca de um terço) e França (quase 25%).
Por conta de seu perfil diferenciado, oferecendo crianças com necessidades especiais, o Brasil também foge, segundo Selman, do padrão que vê as adoções como um negócio. "Por se tratar de crianças com dificuldades, ou deficiências, acredito que os custos de adoção de crianças brasileiras devam ser bem mais baixos, sem envolver uma máfia como acontece em países como a Guatemala", disse. "O lucro gerados pelas crianças brasileiras é mínimo."